- Como, você por aqui, meu amigo? Você num lugar de má fama? Você, o bebedor de quintessências! Realmente surpreende-me.
- Meu amigo, você conhece meu pavor por cavalos e carruagens. Há pouco, enquanto atravessava a rua com pressa, saltando na lama, através desse caos em movimento, aonde a morte chega a galope de toda a parte, ao mesmo tempo, minha auréola, devido a um movimento brusco, deslizou-me da cabeça e caiu na lama do asfalto. Não tive a coragem de apanhá-la. Considerei menos desagradável perder minhas insígnias do que estraçalhar todos os meus ossos. E, ademais, disse-me, a desdita tem sua utilidade. Agora posso passear incógnito, cometer ações vis e entregar-me à libertinagem como simples mortal. Eis-me aqui, tal como me vê, idêntico a você.
"Perda da auréola", extraído de Spleen de Paris, de Charles Baudelaire (1821-1867)
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