Não sou eu que descrevo. Eu sou a tela e oculta mão
colore alguém em mim.
Pus a alma no nexo de perdê-la
e o meu princípio floresce sem fim.
Que importa o tédio que dentro em mim gela
e o leve outono, e as galas, e o marfim,
e a congruência da alma que se vela
como os sonhados pálios de cetim?
Disperso. E a hora como um leque
fecha-se...
Minha alma é um arco tendo ao fundo o mar...
O tédio? A mágoa? A vida?
O sonho? Deixa-se....
E abrindo as asas sobre Renovar,
a erma sombra do voo começado
pestaneja no campo abandonado...
"Passos da Cruz" - Fernando Pessoa
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