A Descoberta da Terra, de Cãndido Portinari
Desembarque de Cabral em Porto Seguro(BA)- Victor Meireles, 1861
Chegada de Cabral a Porto Seguro(BA) - Victor Meireles, 1861
Antiga Torre no Tombo do Castelo de São Jorge(1378)
Primeiro documento escrito da história do Brasil, a Carta de Pero Vaz de Caminha a el-rei Dom Manuel, em 1500, relata suas impressões sobre o Brasil, comunicando-lhe o descobrimento das novas terras, o "achamento do Brasil". A Carta permaneceu desconhecida por mais de dois séculos no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Lisboa, até que em 1773 foi descoberta pelo secretário-adjunto do Marquês de Pombal, José de Seabra da Silva. Entretanto, sua publicação ocorreu apenas em 1817, feita pelo padre Manuel Aires de Casal em sua "Corografia Brasílica". Por tratar-se de um longo texto, preferí apresentar apenas alguns trechos, apenas para termos uma ideia de como era escrito o Português de antigamente, das transformações pelas quais o nosso idioma tem passado, das observações feitas pelo escrivão da Corte Portuguesa, do seu servilismo, e do seu moralismo em relação aos índios. Segundo alguns estudiosos, a 'Carta' é considerada o marco inicial da literatura no Brasil.
Senhor,
posto que o Capitão-mor desta Vossa frota, e assim os outros capitães escrevem a Vossa Alteza a notícia do achamento desta Vossa terra nova, que se agora nesta navegação achou, não deixarei de também dar dessas minha conta a Vossa Alteza, assim como eu melhor puder, ainda que - para o bem contar e falar - o saiba pior que todos fazer!
Todavia tome Vossa Alteza minha ignorância por boa vontade, a qual bem certo creia que, para aformosentar nem afear, aqui não há de por mais do que aquilo que ví e me pareceu.
(.....................................................................................)
E portanto, Senhor, do que hei de falar começo:
E digo quê:
(.......................................................................................)
Então lançamos fora os batéis e esquifes. E logo vieram todos os capitães das naus a esta nau do Capitão-mor. E alí falaram. E o Capitão-mor mandou em terra a Nicolau Coelho para ver aquele rio. E tanto que ele começou a ir-se para lá, acudiram pela praia homens aos dois e aos três, de maneira que, quando o batel chegou à boca do rio, já lá estavam dezoito ou vinte.
Pardos, nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas. Traziam arcos nas mãos e suas setas. Vinham todos rijamente em direção ao batel. E Nicolau Coelho lhes fez sinal que pousassem os arcos. E eles os depuseram.
(............................................................................................)
Alí andavam entre eles três ou quatro moças, bem novinhas e gentis, com cabelos muito pretos e compridos pelas costas, e suas vergonhas, tão altas e tão cerradinhas e tão limpas das cabeleiras que, de as nós muito bem olharmos, não se envergonhavam.
(............................................................................................)
E desta maneira dou aqui a Vossa Alteza conta do que nesta Vossa terra ví. E se a um pouco alonguei, Ela me perdoe. Porque o desejo que tinha de Vos tudo dizer, mo fez pôr assim pelo miúdo. E pois que, Senhor, é certo que tanto neste cargo que levo como em outra qualquer coisa que de Vosso serviço for, Vossa Alteza há de ser de mim muito bem servida, a Ela peço que, para me fazer singular mercê, mande vir da ilha de São Tomé a Jorge de Osório, meu genro - o que d'Ela receberei em muita mercê.(!)
Beijo as mãos de Vossa Alteza.
Deste Porto Seguro, da Vossa Ilha de Vera Cruz, hoje, sexta-feira, primeiro de maio de 1500.
Fonte: wikimedia
Passando para desejar-lhe um Feliz 2010. Saúde, paz, amor, prosperidade.
ResponderExcluirBjs e inté!
Bem, este é um dos meus temas preferidos, escrevi sobre ele, foi ótimo reencontrá-lo aqui. A belas imagens de Victor Meireles expressam uma perspectiva romântica, não é? Um contraponto é o realista Portinari, que pode ser visto em http://www.portinari.org.br/ppsite/ppacervo/obrasCompl.asp?
ResponderExcluirnotacao=2693&ind=9&NomeRS=rsObras&Modo=C
Cirandeira, quero agradecer-lhe muito os últimos comentários no blog. Para mim foram muito imporantes.
Tens toda razão Janaaína. O Portinari é um excelente contraponto e, por distração, não me ocorreu. Obrigada pela dica. Vou acrescentá-lo
ResponderExcluiragora.
O primeiro registro literário brasileiro,fato.
ResponderExcluirFico aqui a pensar com meus botões:E as narrativas orais dos indígenas que aqui viviam?
rsrsrsr
Beijos e ótima semana!
Olha só, Karol: foi o primeiro documento ESCRITO. Os portugueses sequer entendiam o que os índios falavam, comunicavam-se através de gestos...As narrativas dos equivocadamente chamados de índios(na verdade são AMERÍNDIOS, habitantes da América)vieram muito depois,com a chegada dos jesuítas, com a catequese...
ResponderExcluirTambém adoro a história e as estórias desta nossa terra, Cirandeira. Com toda certeza, a realidade foi bem diferente do que aprendemos na escola. Este Portinari, realmente é muito bonito.
ResponderExcluirObs: Tenho uma série de "poeminhas". Se um dia eu resolver publicar um livro, com certeza os "poeminhas" serão os primeiros. Tenho predileção por eles. :) beijo!
gracias por compartir la historia.
ResponderExcluirabrazos
Que graça, quase ingênuo, muito legal.
ResponderExcluirDeixa tbm te desejar tudo de bom e belo este ano.
Gostei muito deste espaço de "ciber-tertúlia". Como colaborar enviando um meu poema "Canto Guarani da Raça Brasil" para ser colocado neste blog?
ResponderExcluirKani Mambo (muito grato em ronga, idioma de da capital de Muçambique)
João Craveirinha
joaocraveirinha@yahoo.com.br
Obrigada pela visita, João Craveirinha. Creio que já tive a oportunidade de trocar e-mail e
ResponderExcluirde até ter comprado um livro de sua autoria:
"Jezebela". Estou certa? Aguardarei uma confirmação sua para em seguida escrever-lhe por e-mail. Terei o maior prazer em publicar
seu poema aqui neste espaço.
Um abraço, kandandu!