DE CHARLES BUKOWSKI (1920-1994)

Arder na água, afogar-se no fogo. O mais importante é saber atravessar o fogo.

20/05/2010

Poesia Africana - Cabo Verde

Mindelo, importante centro cultural de C. Verde

praia da Gamboa




"estrada da corda"
Como a flor cortada rente e desfolhada
ou os olhos vazados da criança
e o seu fio de prano tênue e impotente
assim a noite caminha com os astros
todos em vertigem
até que se atinge o ponto da mudez
a pesada mó triturando a sílaba
a garganta com as cordas dilaceradas
e uma lâmina ácida e pontiaguda
enterrada ao nível da carótida

Entenda-se isto como noite
e o seu transe derradeiro
tanto assim que a flor desfeita
não embala o coração do poeta
oh não
porque a flor defunta
se voa
não sobe nunca
e só dura
o espaço breve duma nota

Assim o vento se detém imóvel
como se da flauta
falhando súbito
na boca do poeta
ficasse o hiato
ou a saliva
de um tempo devassado
por insectos cor de cinza

A voz suspensa e negada
cede a vez à letra amorfa
inserida no silêncio
com seu peso de chumbo e olvido acaba o poema
e um ponto final selando tudo.




"Canto final ou Agonia duma noite infecunda" - do poeta e escritor caboverdiano
Armênio Vieira, ganhador do Prêmio Camões 2009. Esse prêmio existe desde 1988 por iniciativa dos governos português e brasileiro, como uma maneira de destacar escritores e poetas dos países lusófonos. Miguel Torga foi o primeiro a recebê-lo. Em 2008 o premiado foi o escritor baiano João Ubaldo Ribeiro.

7 comentários:

  1. Adoro a sensibilidades dos poetas africanos.
    Em breve no Poete haverão poemas da literatura africana e este lindo universo cultural.Em ritmo de Copa do Mundo.
    Bjs!

    ResponderExcluir
  2. bueno ya entendí tu traductor. muy bueno el texto, las imágenes también.
    un abrazo

    ResponderExcluir
  3. Cirandeira, vi o seu comentário no meu blog e não resisti em vir perguntar se você tem contos para publicar no Contos Marginais. Eu estou envolvida em um projeto muito chato que me impede de escrever até o dia 18 de julho, mas depois quero dar ritmo. Você tem???? Ou terá?

    ResponderExcluir
  4. Cirandeira querida,

    Tirei a tarde para este passeio pelo teu blog.Cuidado,alimentado de cultura,carinho e generosidade.
    As fotos lindas .E o poema,dizer o quê?

    Bela composição.
    Como sempre vc assina bom gosto e poesia pura.

    Beijos,

    Cris

    ResponderExcluir
  5. O poema é lindo...
    adoro portos....e a foto de um em seu blog...me deixou cheia de saudade...
    beijos gentis
    Leca

    ResponderExcluir
  6. Hermoso Cabo Verde! O conhecía a travéz de Cesária Evora-cuando moré em Tierra del Fuego, em 1999, a escutaba muito- (oxalá melhore sua saúde).

    Adorei as fotos. E o poema tene calidad genuina,
    é um prêmio bém otorgado.

    ResponderExcluir