DE CHARLES BUKOWSKI (1920-1994)

Arder na água, afogar-se no fogo. O mais importante é saber atravessar o fogo.

17/11/2010

As coisas

Portrait Robo, de Mozart-Arman


A bengala, as moedas, o chaveiro, a dócil fechadura,
as tardias notas que não lerão os poucos dias
que me restam, os naipes e o tabuleiro.
Um livro e em suas páginas a seca
violeta, monumento de uma tarde
sem dúvida inesquecível e já esquecida.
O rubro espelho ocidental em que arde
uma ilusória aurora. Quantas coisas,
limas, umbrais, atlas, taças, cravos,
nos servem como tácitos escravos,
cegas e estranhamente sigilosas!
Durarão para além de nosso esquecimento;
nunca saberão que já nos fomos.




Jorge Luís Borges (1899-1986)

9 comentários:

  1. Tradução perfeita do que senti vendo as coisas da casa dos meus pais. Todas elas completamente esquecidas que já foram deles um dia.
    bjs

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  2. Se eu escrevesse um poema assim poderia aposentar qualquer restante pretensão!

    À parte: a sua inspiração em por como ilustração esse trabalho do Arman foi fabulosa. Inesquecível postagem!

    Beijo.

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  3. Nós pessoas(?)nós pronome pessoal nós que se atam nós que nunca desatam nós que nos coisificamos e somos coisificados todos os dias
    ad eternum e nem percebemos continuamos a repetir a COISIFICAÇÃO...!

    Que coisa! :))

    Beijos, Lelena

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  4. Se perdemos as pretensões como poderemos evitar
    de nos tornarmos apenas uma "coisa"?
    Já escreveste tanta coisa maravilhosa...!
    Deixe-se de modéstia, POETA!

    Beijo

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  5. O que fomos, o que somos, o que fica...
    Um convite a mergulhar na efemeridade/eternidade das coisas. Mas suspeito que na companhia de Borges nunca encontraremos a entrada nem a saída...

    beijo :)

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  6. nós somos só nós desfeitos
    prender-se-ia caso fosse importante
    é irrelevante
    então perecemos

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  7. A entrada/saída, Agostinho, pode estar em nós
    mesmos; talvez, por isso, seja tão difícil encontrá-la, independente de Borges ou de qualquer outra pessoa, acho.

    Beijo :)

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  8. Nós, vós, eles...todos pereceremos em algum momento. Mas as "coisas"...!?
    Quem será mesmo irrelevante?

    P.S. ainda não postei 1 comentário em teu blog
    devido a exigência de deixar meu endereço eletrônico por lá. Sorry...

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