DE CHARLES BUKOWSKI (1920-1994)

Arder na água, afogar-se no fogo. O mais importante é saber atravessar o fogo.

02/02/2012

O prazer de ler





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O prazer que a leitura promove não é apenas fruição. É um prazer estético. Prazer que pode, inclusive, ser ensinado. Afinal, a matéria-prima da literatura são as palavras. Palavras artisticamente elaboradas. Assim, o prazer da leitura reside na possibilidade que as palavras têm de encantar, de construir diante de nós um universo novo, mágico, possível, com seu reserva de vida paralela, com carga emotiva, que permite o deslocamento do próprio eixo, que permite que nos coloquemos no lugar do outro.
Precisamos, pois, perceber que, quando oferecemos um livro como caminho para o preenchimento de horas vagas, estamos ofertando muito pouco (ou quase nada). O prazer literário é mais: é encanto com as próprias palavras, é maravilhamento diante de uma construção sonora, de uma arquitetura narrativa ou poética.

Caio Riter, doutor em Literatura Brasileira e professor, autor de O rapaz que não era de Liverpool, Porto Alegre, RS - O texto completo encontra-se no blog do autor: http://caioriter.blogspot.com/

8 comentários:

  1. Ci,
    Pelo prazer de ler, sempre!
    Mas não podemos alhear-nos do que se passa à nossa volta, e a utilização compulsiva da Internet parece estar a mudar muitos hábitos e a condicionar outros. Apesar de extensa e de ter algumas dúvidas acerca de determinados aspectos, creio que vale a pena dar uma vista de olhos. Aqui fica.

    “Não é verdade que a Internet seja só uma ferramenta. É um utensílio que passa a ser um prolongamento do nosso próprio corpo, do nosso próprio cérebro, que, também, de uma maneira discreta, se vai adaptando pouco a pouco a esse novo sistema de se informar e de pensar, renunciando pouco a pouco às funções que este sistema faz por ele e, às vezes, melhor que ele. Não é uma metáfora poética dizer que a ‘inteligência artificial’ que está ao seu serviço, suborna e sensualiza os nossos órgãos pensantes, que se vão tornando, paulatinamente, dependentes daquelas ferramentas, e, por fim, nos seus escravos. Para quê manter fresca e activa a memória se toda ela está armazenada em algo que um programador de sistemas chamou “a melhor e maior biblioteca do mundo”? E para quê aguçar a atenção se pulsando as teclas adequadas as recordações que necessito vêm a mim, ressuscitadas por essas diligentes máquinas?
    Não é estranho, por isso, que alguns fanáticos da Web, como o professor Joe O’Shea, filósofo da Universidade da Florida, afirmem: ‘Sentar-se e ler um livro do princípio ao fim não tem sentido. Não é um bom uso do meu tempo, já que posso ter toda a informação que queira com maior rapidez através da Web. Quando alguém se torna um caçador experiente na Internet, os livros são supérfluos’. O atroz desta frase não é a afirmação final, mas que o filósofo julgue que se lêem livros apenas para obter ‘informação’. É um dos estragos que pode causar uma dependência frenética dos ecrãs. Daí, a patética confissão da doutora Katherine Hayles, professora de Literatura da Universidade de Duke: ‘Já não consigo que os meus alunos leiam livros na íntegra’. Esses alunos não têm a culpa de serem agora incapazes de ler Guerra e Paz ou D. Quixote. Acostumados a ir buscar informação aos computadores, sem terem necessidade de fazer prolongados esforços de concentração, foram perdendo o hábito e até a faculdade de o fazer, e foram sendo condicionados para se contentarem com esse borboletear cognitivo a que os acostuma a Rede […] de modo que se foram tornando de certa forma vacinados contra o tipo de atenção, reflexão, paciência e prolongado abandono ao que se lê, e que é a única maneira de ler, gozando, a grande literatura. Mas não creio que a Internet torne apenas supérflua a literatura: toda a obra de criação gratuita, não subordinada à utilização pragmática, fica fora do tipo de conhecimento e cultura que propicia a Web. Sem dúvida que esta armazenará com facilidade Proust, Homero, Popper e Platão, mas dificilmente as suas obras terão muitos leitores. Para quê ter o trabalho de as ler se no Google posso encontrar sínteses simples, claras e amenas do que inventaram nesses fastidiosos tomos que liam os leitores pré-históricos?”

    Mário Vargas LLosa, in El País, 31-07-2011

    Beijo :)

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  2. [Excelente a reflexão... para mais que uma leitura!]

    um abraço,

    Leonardo B.

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  3. Palavras que esfregamos na pele, pequenos orgasmos que a leitura provoca. E nós...não sabemos?

    Beijos, Ci...

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  4. Não sei, Agostinho, embora haja esse risco, ainda prefiro acreditar
    que muitos jovens às vezes nos surpreendem e gostam de ler sobre
    o papel. Humberto Eco, ao contrário
    de Llosa, nos diz: "De vez em quando alguém diz que hoje se lê menos, que os jovens não leem mais,
    que entramos, como afirmou um crítico americano, na idade do 'Decline of Literacy. Eu não sei, certamente hoje as pessoas veem muita televisão,e existem indivíduos de risco que gostam de injetar substâncias mortais na veia;mas também é verdade que nunca se imprimiu tanto quanto em nossa época,e que jamais como em nossos dias floresceram livrarias que parecem discotecas cheias de jovens que, mesmo quando não compram, folheiam, examinam, informam-se." Acho que no caso da WEB(ou mesmo de tantos livros impressos)temos realmente o problema da escolha, como "Funes, o memorioso"(conto de J.L.Borges)que diante das próprias percepções infinitas talvez preferisse esquecê-las.

    beijos :)

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  5. Leo, foi o prazer da leitura que me
    levou à poesia!

    beijo

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  6. Tenho esse prazer estético em alto grau. Gosto da grafia das palavras, dos sons, dos jogos, das imagens.
    beijos, Ci :)

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  7. "arquitectura poética". GENIAL.
    UN ABRAZO

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