DE CHARLES BUKOWSKI (1920-1994)

Arder na água, afogar-se no fogo. O mais importante é saber atravessar o fogo.

28/09/2014

Gostei de ler !!!

Enrique Vila-Matas (Barcelona, 1948), tem sido ultimamente um dos escritores que mais aprecio. Por um motivo muito simples, mas essencial a um escritor: convida-me, e quase me dá a mão para embarcar com ele em suas viagens ficcionais. Através dele tenho revisitado autores como Kafka, Melville, Musil, Robert Walser, Fernando Pessoa, Valéry, e tantos outros. E o mais interessante é sua capacidade de reinventar personagens a partir desses autores, ficções sobre ficções; num voo cujo percurso fazemos sem sair do lugar, podemos ir de repente a Budapeste, a Portugal, aos Açores, de uma forma agradável cheia de ironias, de autocrítica e muita criatividade.
O último livro que li dele, O mal de Montano, é fascinante. Partindo da ideia de que a literatura é uma doença, o autor vai nos demonstrando aos poucos que essa obsessão pode ser exatamente a sua cura; ao encarnar os personagens de outros autores, Vila-Matas tenta evitar a morte da literatura invocando autores já presentes em obras anteriores como Bartleby e companhia, História abreviada da literatura portátil, criando uma espécie de dicionário cujos verbetes muitas vezes são um diário fictício no qual o narrador e seus personagens se misturam num emaranhado de ironias e autoironias, num verdadeiro jogo de xadrez .
A literatura é, de fato, um antídoto para os males desse dia-a-dia cada vez mais cheio de adversidades e de personagens reais que nos provocam muitas vezes ânsia de võmito; a literatura talvez não possa transformar a realidade, mas pode muito bem nos ajudar a suportar de uma forma menos dolorosa nossa dura realidade, e a perceber de uma forma crítica tudo que está por aí... Como escreveu Henri Michaux, "Oceano, que formoso joguete fariam de você, se a sua superfície fosse capaz de sustentar um homem, como frequentemente indica sua aparência, sua lâmina firme. Andariam sobre você. Nos dias tempestuosos, desceriam com ar alucinado por suas rampas vertiginosas". 

Um comentário:

  1. Perfeito, amiga. O que foi dito acima tem tudo a ver com a criação literária. A literatura e até o bom cinema têm uma função libertadora, mesmo que nos cause angústia, e até por isso.
    Que texto fantástico!
    Beijos!

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