DE CHARLES BUKOWSKI (1920-1994)

Arder na água, afogar-se no fogo. O mais importante é saber atravessar o fogo.

23/07/2015

O louco dos livros




No primeiro século da era cristã, o filósofo latino Sêneca denunciava o acúmulo exibicionista de livros: "Muita gente sem educação escolar usa livros não como instrumento de estudo, mas como decoração para a sala de jantar".  Em 1509, o humanista Geiler von Kaysersberg afirmava que: "Aquele que quer livros para ganhar fama deve aprender algo com eles; não deve armazená-los em sua biblioteca, mas na cabeça. Mas este primeiro louco pôs seus livros em correntes e fez deles prisioneiro; se pudessem se libertar e falar (os livros), o arrastariam até o juiz, exigindo que ele, e não eles, fosse encarcerado". Na Grécia, em Roma e Bizâncio, o poeta erudito - o doctus poeta, representado segurando uma tabuleta ou um rolo - foi considerado um modelo, mas esse papel estava destinado aos mortais. Os deuses jamais se ocupavam de literatura; as divindades gregas e latinas jamais eram mostradas segurando um livro. O cristianismo foi a primeira religião a por um livro nas mãos de seu deus e, a partir da metade do século XIV, o livro emblemático cristão passou a ser acompanhado por outra imagem - a dos óculos.


Alberto Manguel em  O Louco dos Livros"

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