DE CHARLES BUKOWSKI (1920-1994)

Arder na água, afogar-se no fogo. O mais importante é saber atravessar o fogo.

04/07/2015

Assimetrias - II

 


 Caí-me debruçada sobre sonhos legendados em idioma indecifrável. O espelho da pupila reflete  imagens opacas e distorcidas. Desidrato as lágrimas que descem pelo rosto; o arco-íris que havia na íris dos olhos transformou-se num horizonte em preto e branco.
Os dias se apagaram para dar passagem a noite e o coração balança entre as mãos trêmulas e frias enquanto o fogo queima o fio d'água que desce pelo rosto abrindo ladeiras, buscando frestas, outras janelas.
A ampulheta denuncia que o tempo se esvai rapidamente espalhando uma fina camada de poeira sobre os olhos, como uma cortina nevoenta de renda escura. O vento sopra e a renda esvoaça o vaivém da angústia, das emoções desconhecidas e imprevisíveis. Não é noite não é dia, é atemporal, mas a filha do dia faz indagações noite adentro à procura da aurora escondida entre as malhas escuras de uma renda.
Há um cântaro (ou pelo menos havia) no canto do olho que pinga e respinga numa cantilena lacrimosa dia e noite: brilha e ofusca os olhos.
 - Abra o olho! - diz ele.
- Tenha paciência! - dizem outros.
 As palavras tornaram-se pó e subiram até as estrelas...


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