DE CHARLES BUKOWSKI (1920-1994)

Arder na água, afogar-se no fogo. O mais importante é saber atravessar o fogo.

09/07/2015

Maiakovski & Antonio Ramos Rosa



 

A nuvem de calças
 
Silêncio!
O Universo dorme
com a enorme orelha
cheia de estrelas
sobre a pata
 
Coração salpicado de lágrimas
(...)
Se quiserem, serei apenas carne louca
e, como o céu, mudarei de tom,
se quiserem,
serei impecavelmente delicado,
não serei homem, mas
uma nuvem de calças!
 




 

Fragmentos de escrita

Como que uma obrigação de renascer, de respirar. Algures, aqui, além, a sombra da frescura... Tu escreves, percorres a igualdade da página, a sua inenarravél brancura. Qual a experiência que em parte se dissimula, oculta pelo visível-invisível véu da superfície insondavelmente branca? Um animal de luz, um animal de sombra? Tu não podes dizer ainda o teu nome. Tens de defender-te pelo risco, pela audácia, pela minuciosa avaliação que te conduzirá à diferença desejada, à página prometida. O arco da aliança não é o arco de amanhã. Desviaste-te da estrada principal e procuras a disseminação do solo onde todos os caminhos conduzem aos caminhos que se perdem. Essa, a tua perda, o teu risco, a possibilidade do renovo. Há um tremor nas tuas mãos, és tu que tremes, não as palavras como fugidios desenhos, como lábios de uma ferida viva. As palavras são sempre demasiado rígidas ou fluidas. O traço nunca é diáfano ou transparente. Escreve-se sempre com as mãos nuas mas a nudez e a transparência da página é que permitem a penetração no obscuro, a revelação do invisível. Quando todos os vocábulos são de água e de ar e terra e fogo...


Antônio Ramos Rosa, em Quando o inexorável

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