DE CHARLES BUKOWSKI (1920-1994)

Arder na água, afogar-se no fogo. O mais importante é saber atravessar o fogo.

10/04/2009

Pátria

Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonha, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite de sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta.
[.] Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até a medula, não discriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiras e sevandijas, capazes de toda a infâmia, da mentira à falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverossímeis no Limoeiro.[.]
Abílio Manuel Guerra Junqueiro, nasceu em Freixo de Espada à Cinta (Distrito de Bragança, norte de Portugal) em 1850. Formado em Direito, foi jornalista, escritor e poeta panfletário e caricaturista, sendo considerado o mais popular de sua época.Sofreu forte influência literária de Charles Baudelaire, Proudhon, Víctor Hugo e Michelet. Foi também deputado, aderindo aos ideais republicanos. Sua poesia deu uma grande contribuição para que se instalasse um clima revolucionário, que culminou com a implantação da República. Faleceu em 1923.

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