DE CHARLES BUKOWSKI (1920-1994)

Arder na água, afogar-se no fogo. O mais importante é saber atravessar o fogo.

10/09/2010

"Terra Bárbara"

Na minha terra,
as estradas são tortuosas e tristes
como o destino do seu povo errante.
Viajor
se ardes em sede,
se acaso a noite te alcançou,
bate sem susto no primeiro pouso:
- terás água fresca para tua sede,
rede cheirosa e branca para o teu sono.
Na minha terra,
o cangaceiro é leal e valente;
jura que vai matar e mata.
Jura que morre por alguém - e morre.
(Brasil, onde mais energia:
na água, que tem num só destino
do teu Salto das Sete Quedas
ou na vida, que tem mil destinos,
do teu jagunço aventureiro e nômade?)
Ah, eu sou da terra do seringueiro,
- o intruso
que foi surpreender a puberdade da Amazônia.



Eu sou da terra onde o homem seminu
planta de sol a sol o algodão para vestir o Brasil.
Eu nascí nos tabuleiros mansos de Quixadá
e fui crescer nos canaviais do Cariri,
entre caboclos belicosos e ágeis.


Filho de gleba, fruto em sazão ao sol dos trópicos,
eu sou o índice do meu povo:
se o homem é bom - eu o respeito.
Se gosta de mim - morro por ele.
Se, porque é forte, entender de humilhar-me
- ai, sertão!
Eu viveria o teu drama selvagem,
eu te acordaria ao tropel de meu cavalo errante,
como antes te acordava ao choro da viola...


Jader de Carvalho, poeta e jornalista, nascido em Quixadá, sertão central do Ceará (1901-1985)

2 comentários:

  1. Emocionou-me este canto a uma certa forma de ser numa região do Brasil (Ceará?).

    Beijo :)

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  2. Emocionante, realmente. E a imagem do banner é muito bonita!

    Beijo.

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