"La vie à plein dents" - Arman
Estou farto do lirismo comedido.
Do lirismo bem comportado.
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
protocolo e manifestações de apreço ao Sr. diretor.
Estou farto do lirismo que para e vai averiguar no dicionário
o cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas.
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais.
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção.
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis.
Estou farto do lirismo namorador.
Político
Raqu[itico
Sifilítico
De todo o lirismo que capitula ao que quer que seja
fora de si mesmo.
De resto não é lirismo.
Será contabilidade, tabela de co-senos secretário do amante
exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes
maneiras de agradar às mulheres, etc.
Quero antes o lirismo dos loucos
o lirismo dos bêbedos
o lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare.
Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.
Manuel Bandeira, Recife(PE) - 1886-1968
Estou aqui abismado com a imagem que você selecionou para dialogar com o poema. Que vínculo admirável! Louvo a sua sensibilidade.
ResponderExcluirBeijo.