O Tempo gastador de mil idades,
Que na décima esfera vive e mora,
Não descansa co’a Fúria tragadora,
De exercitar, feroz, suas crueldades.
Ele destrói as ínclitas cidades,
As egípcias pirâmides devora:
Sua dentada fouce assoladora,
Rompe forças viris, destrói beldades.
O bronze, o ouro, o rígido diamante,
A sua mão pesada amolga e gasta
Levando tudo ao nada, em giro errante.
Como trovão feroz rugindo arrasta,
Quanto cobre na Terra o sol radiante,
Só da Virtude com temor se afasta.
Francisco Joaquim Bingre, pertenceu a Academia de Belas Letras, também conhecida como Nova Arcádia de Lisboa. Embora seja autor de uma vasta obra que inclui sonetos, odes, sátiras, farsas, fábulas, ainda é pouco conhecido em Portugal, onde nasceu. (1763-1856).
O tempo é como uma faca de dois gumes ou como um espelho de reflexos distorcidos...!
ResponderExcluirTem razão, Ci, nunca ouvi falar de Francisco Joaquim Bingre.
ResponderExcluirPorque será que foi marginalizado?
Beijo :)
Há muito escritor desconhecido, independente da qualidade. E, em se ratando de quem coloca a Virtude acima do Tempo, ambos com maiúsculas, decerto não encontrou eco entre seus pares. Nem no século XIX. Talvez na Velha Arcádia, a originária, ainda que as virtudes ali tivessem tinturas heroicas, embora haja outras tantas menos ruidosas.
ResponderExcluirCostuma-se duvidar muito dessa possibilidade, por suspeita de qualquer legítima virtude.
Um beijo, Cirandeira.