"Clio, a musa da História", de Pierre Mignard
Aqui a ação simplificou-se.
Derrubei a paisagem inexplicável da mentira.
Derrubei os gestos sem luz
e os dias impotentes.
Lancei por terra os propósitos lidos e ouvidos.
Ponho-me a gritar.
Todos falavam demasiado baixo
e escreviam demasiado baixo.
Fiz retroceder os limites do grito.
A ação simplifica-se.
Porque eu arrebato à morte essa visão da vida
que lhe destinava um lugar perante mim.
Com um grito
tantas coisas desapareceram
que nunca mais voltará a desaparecer
nada do que merece viver.
Estou perfeitamente seguro que o Verão
canta debaixo das portas frias
sob armaduras opostas.
Ardem no meu coração as estações
as estações dos homens e seus astros
trêmulos de tão semelhantes serem.
E o meu grito nu sobe um degrau
da escadaria imensa da alegria.
E esse fogo nu que pesa
torna a minha força suave e dura.
Eis aqui a amadurecer um fruto
ardendo de frio orvalhado de suor.
Eis aqui o lugar generoso
onde só dormem os que sonham.
O tempo está bom, gritemos com mais força
para que os sonhadores durmam melhor
envoltos em palavras
que põem o bom tempo nos meus olhos.
Estou seguro de que a todo momento
filha e avó dos meus amores
da minha esperança,
a felicidade jorra do meu grito
para a mais alta busca.
Um grito do qual o meu seja o eco.
Paul Éluard, pseudônimo de Eugène Emile Paul Grendel
(1895-1952) - Tradução de Antonio Ramos Rosa/Luísa Neto Jorge
Nossa! Leva a gente junto. Empresta uma sensação de força e liberdade! Uma pulsão e tanto pela vida.
ResponderExcluirLindíssimo.
E enquanto isso,meu coração ecoa o silêncio.
ResponderExcluirBeijos!