Adere à narrativa a marca de quem a narra, como à tigela de barro a marca das mãos do oleiro. No ato de narrar intervém a atividade da mão, que com os gestos aprendidos no trabalho, apoia de cem maneiras diferentes aquilo que se pronuncia. Se a arte de narrar rareou, então a difusão da informação teve nesse acontecimento uma participação efetiva.
Walter Benjamin, ensaísta e filósofo alemão (1892-1940)
O caboclo era carroceiro, passou na porta da igreja tava...doze menino se batizando. O caboclo disse: - Vou batizar meu jumento já, já!
- Padre, eu queria batizar...que você batizasse meu jumento.
- Mas você tá doido, rapaz, batizar o jumento, rapaz?
Não, num faça isso não! Meu jumentinho eu acho tão bonitinho, quero tanto bem! Batize meu jumento!
- Não, batizo não!
No outro dia o caboclo foi de novo:
- Padre, eu vou lhe dar um dinheiro pra você batizar meu jumento.
Dinheiro até avultado, o padre foi e disse assim:
- Olha, depois que eu batizar os menino amanhã, tu traz teu jumento que eu batizo!
- Tudo bem.
No outro dia, quando terminou os...o batizado, aí, o caboclo com o jumento:
- Pronto, padre.
O padre batizou o jumento, quando foi saindo, o bispo vinha entrando.
- Que negócio é esse, João, um jumento dentro da igreja, que é isso? Num dá certo!
O padre correu:
- Bispo, é porque eu batizei esse jumento.
- Batizou o jumento?
- Batizei.
- Por quanto?
- Tanto.
- Ainda ficou com dinheiro?
- Ficou.
O bispo foi, chegou lá, disse:
- Óia rapaz, amanhã traz teu jumento pr'eu crismar, tais vendo?
in "Contos Populares Brasileiros", de Raimundo Nonato Rufino, Santana de Acaraú (CE), recolhido por Francisco de Assis de Sousa Lima.
Amei essa publicação. A forma como introduziu o conto levando a importante reflexão.
ResponderExcluirE "O Batismo do Jumento"... Ah, você já sabe do meu fascínio não apenas pelas histórias, mas por esses falares da nossa gente que, aparentemente mutilados, esbanjam sedução e principalmente expõem a alma brasileira.
Bjs e inté!
Que bom que gostaste, Ju. Nesse nosso Brasil
ResponderExcluirprofundo tem tanta gente criativa, e tão desconhecida de todos, ou quase todos...!?
Oi Cirandeira,
ResponderExcluirAdorei a introdução do Walter Benjamim...estudei algumas teorias dele no semestre passado. Vc é professora, estuda o que?
Ao ver este post até peguei meu material pra rever o Walter, e acabei encontrando o Theodor W. Adorno, que estudou junto e a princípio, Adorno queria apenas se dedicar a traduzir o material do Walter...e acabou se tornando junto com ele, um dos maiores filosofos.
Adorei ter o Walter por aqui,
Com um beijo,
Ale
A simplicidade, ingenuidade e pureza como presas fáceis...
ResponderExcluirGostei muito, há uma grande sensibilidade na divulgação destas histórias. Creio que vou mergulhar no blogue à procura de mais, pois parece-me haver um fio condutor em todas elas.
Beijo
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirSinta-se em casa, AC, pode "mergulhar" à vontade (rindo...)Talvez encontres por aqui até
ResponderExcluirumas "abobrinhas", porque misturadas aos camarões e azeite de oliva(huuumm!), ficam deliciosas...rindo mais ainda, às gargalhadas!!
Beijo
Cirandeira, o igreja danada essa, tão trágica quanto engraçada, porque estou a rir quando deveria sentir raiva ou vice e versa que já nem sei :)
ResponderExcluirE a pois! num é, minina? "A casa de Deus"!?
ResponderExcluirCirandeira minha Flor, que lindo o texto sobre o Oleiro. Já o guardei! Me faz lembrar um texto"Quem realmente és tu, então, ó homem para redarguires? Dirá a coisa moldada àquele que o moldou: "Por que me fizeste deste modo?" O que? Não temo Oleiro autoridade sobre o barro, para fazer da mesma massa um vaso para uso honroso, outro para uso desonsoroso?... Deve o prórpio Oleiro ser considerado igual ao barro? Acaso deve a coisa feita dizer referente aqule que a fez: "Ele não me fez"? E acaso a própria coisa formada diz realmente referente àquele que a formou: "ele não mostrou entendimento"?"
ResponderExcluirOleiro, mãos...dizem muito não é não?
Minha linda cirandeira, eu visitei uma Casa muito gostosa e acredito que irá se identificar com ela.
"Emoções" - http://mrdebrassi.blogspot.com/
Se desejar vá visitá-la e se gostar, sempre é bom partilhar amizades saudáveis e que só nos faz bem!
Com carinho e amando ter vindo te visitar,
Sílvia
Pois é, Sílvia, talvez seja porque somos todos
ResponderExcluirfeitos do mesmo barro!, não é não?
Obrigada pela dica do site, qdo. tiver um tempinho... e obrigada pela visita.
buen texto, me gusto el mensaje.
ResponderExcluirun abrazo
Tudo lindo demais e com muita graça...
ResponderExcluirBom final de semana, amiga!!!Bjssss
A passagem foi rápida porque está chegando a hora do maridão voltar do trabalho, rs.
ResponderExcluirOlha, labirintite é um negócio muito chato, um dia você está zen, no outro, está sem a mínima condição de sobreviver. Mas estou bem no geral, obrigada por seu interesse, querida.
Esses trabalhos com argila, o jumentinho que foi batizado, esse nordeste esquecido e amado, só você nos faz esse resgate e com total maestria. Teu blog tem cheiro da terra, cheiro de povo brasileiro e me faz um bem arretado, rsrs.
Lindeza, beleza pura!!!Bjsss
Coisa boa receber esse teu comentário!, amiga.
ResponderExcluirGosto muito mesmo de divulgar as coisas e as pessoas desse nosso Brasil, que, diga-se de passagem, são tantos! E conhece-se tão pouco
dele, não é mesmo? Obrigada, querida. Eu adoro
cheiro de terra, principalmente quando dá aquela chuva, e toda a Natureza fica em êxtase!
Beijos