Xangai
Demonstração de Kung Fu, em Kaifeng
Palácio da Cidade Proibida
Quando se encontrava uma garota de outra fábrica, a primeira coisa era saber as referências. De que ano você é?, perguntava uma à outra, como se não estivesse falando de um ser humano, mas da fabricação de carros. Quanto por mês? Incluindo quarto e refeição? Quanto pelas horas extras? Podia então perguntar de qual província ela era. Mas nunca perguntava o nome.
Ter uma amiga de verdade dentro da fábrica não era fácil. Dormiam doze garotas em um quarto, e naquele ambiente claustrofóbico do dormitório era melhor guardar segredo. Algumas entravam para a fábrica com carteiras de identidade emprestadas e nunca diziam a ninguém os verdadeiros nomes. Outras só conversavam com colegas de sua província de origem, mas isso tinha lá seus riscos: o disse me disse percorria célere o caminho da fábrica até a aldeia, e quando elas voltavam para casa, as tias e as avós sabiam quanto tinham ganhado, quanto tinham economizado e se saíam com rapazes.
***
No fim da década de 1970 as reformas permitiram às famílias de agricultores vender parte da colheita no mercado, em vez de entregar toda a produção ao Estado. (....) Uma medida governamental de 1984 autorizava os agricultores a estabelecer pequenos mercados nas cidades; mudar-se deixou de ser um crime. A migração ganhou velocidade, e em 1990 o país tinha sessenta milhões de migrantes, muitos atraídos pela expansão das fábricas e cidades no litoral.
Hoje a China tem 130 milhões de trabalhadores migrantes. (...) Em cidades grandes como Pequim e Xangai, os migrantes chegam a ser um quarto da população; nas cidades industriais do sul da China, são eles que mantêm em funcionamento as linhas de montagem da economia nacional, baseada nas exportações. Juntos, eles representam o maior movimento migratório da história da humanidade, o triplo do número de pessoas que emigrou da Europa para a América ao longo de um século.
As Garotas da Fábrica, de Leslie T. Chang, filha de imigrantes chineses, graduada em História e Literatura Americana pela Universidade de Harvard(EUA). Trabalhou como jornalista na República Tcheca, em Hong Kong e em Taiwan. Foi correspondentedo The Wall Street Journal em Pequim. - Tradução de Clóvis Marques
Imagens: wikipedia
Apesar de já todos o estarmos a sentir na pele, ainda está por fazer o estudo do impacto real da abertura da China ao mundo, baseado em exportações maciças de produtos produzidos por milhões de pessoas em condições sub-humanas.
ResponderExcluirQuando a locomotiva da humanidade avança em múltiplos andamentos, é duro o preço a pagar.Bem sei que a dita civilização ocidental tem sido privilegiada, mas os assomos do equilíbrio à escala planetária teimam em não surgir...
beijo :)
Na verdade, tem sido uma falsa abertura, tem sido uma via de mão única, e mesmo assim, os efeitos econômicos têm sido muito mais em benfício da própria China, já que ela vem invadindo os mercados esternos com seus produtos baratíssimos, porque possui um excedente de mão-de-obra que ganha uma miséria
ResponderExcluirde salário!O mundo ocidental não tem acesso a
nada do que acontece por lá. O desenvolvimento
em escala planetária ocorre apenas e tão somente em relação a bens mateiriais, financeiros. As relações sociais, humanas,
estão cada dia mais degradantes.
O livro dessa filha de imigrantes, mostra com
bastante clareza as condições em que vivem e trabalham essas garotas, que saem de casa com
12, 13 anos de idade e são submetidas às piores condições de trabalho, como bem disseste, "em condições subumanas"! Mas chamam
isso de "progresso" ...!
beijo :)
Dói este estado de "pessoas coisas".
ResponderExcluirDói o rumo desumano do mundo.
Dói a dor calada das meninas chinesas.
Cirandeira querida,
Em tua ciranda de amor esbarra pelos países e
traz de lá poemas,histórias,reflexões.
Obrigada,
Com carinho,
Cris
Feliz natal e LUZ!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Cris, sua "sumida"! És tão gentil, tão carinhosa quando passas por aqui...!
ResponderExcluirDe toute façon :)merci, chérie, gosto muito
de tuas visitas!
beijos