DE CHARLES BUKOWSKI (1920-1994)

Arder na água, afogar-se no fogo. O mais importante é saber atravessar o fogo.

10/08/2011

Toda a manhã consumida...



Toda a manhã consumida

como um sol imóvel

diante da folha em branco

princípio do mundo, lua nova.

Já não podia desenhar

sequer uma linha,

um nome, sequer uma flor

desabrochava no verão da mesa:

nem no meio-dia iluminado,

cada dia comprado,

do papel, que pode aceitar,

contudo, qualquer mundo.


A noite inteira o poeta

em sua mesa, tentando

salvar da morte os monstros

germinados em seu tinteiro.

Monstros, bichos, fantasmas

de palavras, circulando,

urinando sobre o papel,

sujando-o com o seu carvão.

Carvão de lápis, carvão da ideia fixa, carvão

da emoção extinta, carvão

consumido nos sonhos.


João Cabral de Melo Neto

8 comentários:

  1. UN PENSAMIENTO MUY CREATIVO Y MARAVILLOSO.
    UN ABRAZO

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  2. Nossa, quando a gente lê palavras como essa, a gente fica tão pequeninha e tão grande ao mesmo tempo...
    Que bonito, Ci.
    Beijoss

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  3. Pois eu me sinto o pó do lápis! :)
    Fico impressionada com a poesia de
    João Cabral, para mim um dos melhores poetas da Literatura Universal!

    beijoss

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  4. Gracias por la visita, Reltih.

    un abrazo

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  5. E eu amiga, sinto-me o pó das alpercatas desse conterrâneo.

    Vc não é apenas Cirandeira, mas tb é aquela que descobre pérolas.
    Não conhecia essa preciosidade do JCMN.
    Parabéns.
    E um abç fra/terno.

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  6. Obrigada, Eurico. Vivo procurando
    um pouco da luz das estrelas a ver se elas clareiam um pouco o meu caminhar...:)

    um abração

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  7. Que poema profundo Cirandeira. Lindo!
    E adorei passear por essa tua casa. Um beijo, F.

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  8. Seja bem-vinda, F., espero que voltes sempre, obrigada pela visita!

    beijo

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