Às vezes, em dias de luz perfeita e exacta,
Em que as coisas têm toda a realidade
{que podem ter,
Pergunto a mim próprio devagar
Porque sequer atribuo eu
Beleza às coisas,
Uma flor acaso tem beleza?
Tem beleza acaso um fruto?
Não: têm cor e forma
E existência apenas.
A beleza é o nome de qualquer coisa
{ que não existe
Que eu dou às coisas em troca do agrado
{que me dão.
Não significa nada.
Então porque digo eu das coisas: são belas?
Sim, mesmo a mim, que vivo só de viver,
Invisíveis, vêm ter comigo as mentiras
{dos homens
Perante as coisas,
Perante as coisas que simplesmente existem,
Que difícil ser próprio e não ver senão o visível!
Fernando Pessoa, publicado na revista Atena, 1925
Tela de Paul Cézanne (acima)
Toda a inconfudível densidade humana e poética do Fernando Pessoa.
ResponderExcluirValeu!
Abç fra/terno.
Pessoa é uma das vozes que me compõem, creio que a mais densa delas, a mais desassossegada...
ResponderExcluirbom ler este post aqui, Cirandeira! Um grande abraço
Que bom te ver por aqui novamente, Andrea! Tava com saudades :)
ResponderExcluirUm abração
Eurico, obrigada por tua visita,
ResponderExcluirsempre muito bem-vinda!!!
grande abraço
Esse homem me deixou louca tão cedo. É dele a mania de infelicidade que me invade às vezes, mas infelidade de uma descrença cheia de poesia que vira, na verdade, a maior das religiões.
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