No século XIX, era comum a presença de artistas integrando comitivas diplomáticas. O objetivo disso era documentar a expedição com relatos dos fatos e inventariar as paisagens, a fauna e a flora dos territórios explorados. Em 1832 o pintor francês Eugène Delacroix (1798-1863) fez parte de uma comitiva diplomática francesa, acompanhando o conde de Mornay até as cidade de Tanger e Meknes, em Marrocos. Em seus cadernos Delacroix registrou cenas feitas a bico de pena, lápis e aquarela. Há também registros de acontecimentos vividos, de cerimônias presenciadas por ele. Mesmo antes de sua viagem já era conhecido seu interesse por culturas "não européias". Para ele, o oriente simbolizava o mistério, o desconhecido e uma promessa de sensualidade: "O pitoresco é abundante por aqui. Seria capaz de fazer a fortuna de vinte gerações de pintores", diz ele em carta escrita a Armand Bertin. No entanto, ele tinha consciência da fragilidade de sua tarefa, pois escreveu para seu amigo Pierret: "Estou certo de que a grande quantidade de informações curiosas que levarei daqui não servirá muito. Longe do país onde foram feitas, serão como árvores arrancadas de seu solo natal. Meu espírito esquecerá essas impressões e eu teri que exprimir friamente a sublime e impressionante vivacidade que ocorre aqui nas ruas." Não existe nenhuma referência à tensão que envolvia o fato de a comitiva francesa ficar confinada por vários dias, aguardando que a delegação argelina saísse da cidade de Meknes. Um dos objetivos estava relacionado a problemas diplomáticos de navios franceses apreendidos na Argélia. Mas Delacroix estava preocupado apenas em pesquisar dados dessa nova cultura que se apresentava a seus olhos. Suas anotações referem-se à memória dos fatos e costumes; a diferença entre muçulmanos e judeus, seus hábitos e vestimentas, os adereços das mulheres, enfim, os costumes do povo.
FONTE: Tiraz - Revista de Estudos Árabes e das Culturas do Oriente Médio-2005.
Hummm... que legal encontrar Delacroix por aqui! Foi um monstro sagrado da pintura.
ResponderExcluirBjão!
DEBE SER MUY LINDO PAÍS.
ResponderExcluirUN ABRAZO
Que observação maravilhosa essa de Delacroix na carta ao amigo. Mas fico imaginando se os quadros de cores exuberantes que ele fez ao retornar seriam frutos duma expressão fria. Talvez sua evocação ao pintá-los tenha sido muito mais viva do que ele previra.
ResponderExcluirSabe-se que era um artista muito articulado e que mantinha um diário. Eu o leria de bom grado. Van Gogh o cita muito nas próprias cartas e fez a partir das obras de Delacroix muitas de suas reflexões sobre a cor.
Quanto aos desenhos, o que esperar mais de alguém que dizia que era preciso desenhar com rapidez capaz de registrar a queda de um corpo do terceiro andar antes que ele atinja o chão!
Beijo.
Ps. Engraçado, ontem estava relendo um trecho de Montesquieu em Cartas Persas em que o personagem fala sobre como era visto um persa em Paris: "Ah! Este senhor é persa? É coisa realmente extraordinária! Como se pode ser persa?"
Essa "curiosidade européia" sobre
ResponderExcluiros países do Oriente é coisa bem antiga mesmo. Por trás do interesse pelo "exótico" escondia-se na verdade, interesses territoriais e econômicos. E Delacroix sentiu isso na pele!, pois percebia que não era bem aceito pelos marroquinos, eles o olhavam desconfiados e com má vontade. Dizem que ele expressou muito bem essa sensação num quadro
que se chama "Uma rua de Meknes", (infelizmente não conseguí encontrá-lo, gostaria muito de conhecer). Ele realmente era genial!
"As Cartas Persas", de Montesquieu
são de uma ironia incrível, anteciparam muita coisa, que aliás, até hoje são atuais; é um livro pra se ler e reler, porque nos mostra muitos aspectos dos que estão "lá em cima", no comando através dos tempos!
um beijo