Até quando
esse cruzar de braços, impotente,
essa espera?
Até quando
ó Senhor Tempo
o teu domínio?
E tu, Morte,
Por que não te apressaste?
Por que não chegaste antes
Que o Inexorável nos aprisionasse?
Bem-vinda terias sido à casa nossa
II
Triste é a espera que mina aos poucos.
Onde nós dois que nos olhávamos
que nos falávamos
que nos tínhamos?
Agora somos sombras,
sombras defazendo-se.
E quase nem lembramos
de quem as sombras somos.
Quando o futuro for passado
Quando eu for velha,
murcha e bem seca,
quando os seios que amaste
não forem mais o que hoje são.
Quando o colorido escurecer
E o escuro embranquecer,
quando o olhar amortecer,
o andar trôpego duvidar
e ruga funda me visitar,
Quando formos já dois velhos
(sim, um dia, pouco a pouco,
tudo isto há de chegar!)
quando o futuro for presente
e o presente passado...
longos diálogos viverão
junto a silêncios,
junto a suspiros.
Quando eu for velha,
bem velha,
que canto terei em mim?
Marialzira Perestrella, poeta, escritora e psicanalista, nasceu no Rio de Janeiro, em 1916