XLVI
Deste modo ou daquele modo,
Conforme calha ou não calha,
Podendo às vezes dizer o que penso,
E outras vezes dizendo-o mal e com misturas,
Vou escrevendo os meus versos sem querer,
Como se escrever não fosse uma coisa feita
[de gestos
Como se escrever fosse uma coisa que me
[acontecesse
Como dar-me o sol de fora.
Procuro dizer o que sinto
Sem pensar em que o sinto.
Procuro encostar as palavras à ideia
E não precisar de um corredor
Do pensamento para as palavras.
Nem sempre consigo sentir o que sei que
[devo sentir.
O meu pensamento só muito devagar
[atravessa o rio a nado
Porque lhe pesa o fato que os homens
[o fizeram usar.
Procuro despir-me do que aprendi,
Procuro esquecer-me do modo de lembrar
[que me ensinaram,
E raspar a tinta com que me pintaram
[os sentidos,
Desencaixotar as minhas emoções
[verdadeiras,
Desembrulhar-me e ser eu,
[não Alberto Caeiro,
Mas um animal humano que a Natureza
[produziu.
E assim escrevo, querendo sentir a Natureza,
[nem sequer como um homem,
Mas como quem sente a Natureza e mais
[nada.
E assim escrevo, ora bem, ora mal,
Ora acertando com o que quero dizer,
[ora errando,
Caindo aqui, levantando-me acolá,
Mas indo sempre no meu caminho como
[um cego teimoso.
em Obra Poética II - Poemas de Alberto Caeiro
Oi, amiga!
ResponderExcluirOlha nós aqui outra vez!Rsrs
E voltei para participar dessa Festa Poética do nosso Mestre Fernando Pessoa.
Ci, devo muito a ele, até na vida pessoal. Pessoa me alimentou a alma sofrida em muitos momentos cruciais...
Primoroso seu lay, como sempre.
Andei pelo facebook, mas querendo sair. Mas cadê que eu pude? Amigos me prenderam por lá, e aí o coração falou mais alto, fiquei.
Um ótimo fim de semana, minha querida!!!
Oi amiga "fullgas" ! Jóia rara, preciosa, preciosa!, por onde tens andado, que quase não trocamos mais ideias? Tô com saudades!!!
Excluirbeijos, querida!