Estamos todos bem servidos
de solidão.
De manhã a recolhemos
do saco, em lugar de pão.
Pão é claro que temos
(não sou exageradão)
mas esta imagem do saco
contendo um pequeno "não"
não figura nesta prosa
assim do pé para a mão,
pois o saco utilizado,
que pode ser o do pão,
recebe modestamente
a corriqueira fracção
desse alimento que é
tão distribuído, tão
a domicílio como
o leite ou o pão.
Mas esse leitor aí
(bem real!) já diz que não
que nunca viu no tal saco
o tal "não".
Ao que o poeta responde,
sem maior desilusão:
Para dizer a verdade,
eu também não...
Mas estava confiante
na sua imaginação
(ou na minha...)e que sentia
como eu, a solidão
e quanto ela é objecto
da carinhosa atenção,
de quem hoje nos fornece
o quotidiano "não",
por todos os meios, desde
a fingida distracção
até ao entre-parênteses
de qualquer reclusão
Alexandre O'Neill, Lisboa (1924-1986)
O'Neill é especial!!!
ResponderExcluirObrigado pela sua visita a Cores & Palavras.
ResponderExcluirEstás nos apresentando, O'Neill e eu. Sempre que me apresentas um poeta, corro em busca de mais sobre ele, é o que farei agora, depois de ler o poema. Obrigada, Ci!
Beijos,