A serra
A serra elétrica das cigarras parou.
Tão de repente que o dia
que ela partia em dois,
num estalo deitou ao chão suas metades.
Ficou só esta poça de silêncio, indiferente,
e um tremor de alfinetes ardendo
dentro da caixa
de onde se abre o quem.
Em Saravejo
Na primeira foto ela rí,
selvagem,
e se mistura às amigas.
Um ano mais tarde,
posa com as mãos no colo,
coluna reta,
os pés cruzados pra trás.
Por dentro do uniforme pressente
uma mulher, a passos largos,
galgando as ruas de grandes cidades
- quem sabe no exterior.
Quando a ví, alí, distraída,
na escada do ônibus escolar,
nada me preparou para suas pernas
abertas,
no meio a flor dilacerada
repetindo entre as coxas,
o buraco da bala no peito:
um dois pontos insólito.
Cláudia Roquette Pinto é natural do Rio de Janeiro-RJ
GUAUUU, DE VERDAD, MUY EXCELENTES TEXTO. ME GUSTAN. GRACIAS POR COMPARTIRLOS.
ResponderExcluirUN ABRAZO
Que bela imagem essa da cigarra que serra o dia ao meio!
ResponderExcluirO segundo poema é triste, contundente, transgeografia da dor. Como seria diferente?
Beijo.