DE CHARLES BUKOWSKI (1920-1994)

Arder na água, afogar-se no fogo. O mais importante é saber atravessar o fogo.

27/02/2011

Que farás tu, meu Deus?


Que farás tu, meu Deus, se eu perecer?
Eu sou o teu vaso - e se me quebro?
Eu sou tua água - e se apodreço?
Sou tua roupa e teu trabalho,
comigo perdes tu o teu sentido.

Depois de mim não terás um lugar
onde as palavras ardentes te saúdem.
Dos teus pés cansados cairão
as sandálias que sou.
Perderás tua ampla túnica.
Teus olhar, que em minhas pálpebras
como um travesseiro
ardentemente recebo,
virá me procurar por largo tempo
e se deitará na hora do crepúsculo,
no duro chão de poeira.
Que farás tu, meu Deus?

O medo me domina.


Rainer Maria Rilke, Praga (Eslováquia) - 1875-1926

Tradução de Paulo Plínio Abreu

2 comentários:

  1. Como é bom transportar para Deus a nossa fragilidade humana, não é? Há poeticamente uma cumplicidade entre nós, e o poema traz a ideia à mesa. Ele precisa também ser fragilizado para que tudo tenha sentido, para que tudo cumpra-se. Sem o ser humano, ele perde o sentido. É claro que sim! Precisamos mutuamente um do outro. Bela reflexão. Fiquemos mais fortes! Rilke é sempre um belo presente, Jussara! Beijos! Rita

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  2. Se não houver deus na vida, não haverá também na morte. Eu hoje estou especialmente, domingamente, revoltada com o tal deus que não faz a mínima questão que acreditemos nele. Mas o poema do Rilke, de qualquer forma, é maravilhoso.
    Beijo

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