DE CHARLES BUKOWSKI (1920-1994)

Arder na água, afogar-se no fogo. O mais importante é saber atravessar o fogo.

26/08/2011

Às vezes...



Às vezes, em dias de luz perfeita e exacta,

Em que as coisas têm toda a realidade

{que podem ter,

Pergunto a mim próprio devagar

Porque sequer atribuo eu

Beleza às coisas,

Uma flor acaso tem beleza?

Tem beleza acaso um fruto?

Não: têm cor e forma

E existência apenas.

A beleza é o nome de qualquer coisa

{ que não existe

Que eu dou às coisas em troca do agrado

{que me dão.

Não significa nada.

Então porque digo eu das coisas: são belas?

Sim, mesmo a mim, que vivo só de viver,

Invisíveis, vêm ter comigo as mentiras

{dos homens

Perante as coisas,

Perante as coisas que simplesmente existem,

Que difícil ser próprio e não ver senão o visível!


Fernando Pessoa, publicado na revista Atena, 1925

Tela de Paul Cézanne (acima)

5 comentários:

  1. Toda a inconfudível densidade humana e poética do Fernando Pessoa.

    Valeu!

    Abç fra/terno.

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  2. Pessoa é uma das vozes que me compõem, creio que a mais densa delas, a mais desassossegada...

    bom ler este post aqui, Cirandeira! Um grande abraço

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  3. Que bom te ver por aqui novamente, Andrea! Tava com saudades :)

    Um abração

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  4. Eurico, obrigada por tua visita,
    sempre muito bem-vinda!!!

    grande abraço

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  5. Esse homem me deixou louca tão cedo. É dele a mania de infelicidade que me invade às vezes, mas infelidade de uma descrença cheia de poesia que vira, na verdade, a maior das religiões.

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