DE CHARLES BUKOWSKI (1920-1994)

Arder na água, afogar-se no fogo. O mais importante é saber atravessar o fogo.

05/03/2011

Carnelevarium ou "o adeus à carne"....? (reeditado)

Chiquita bacana lá da Martinica,
se veste com uma casca de banana nanica
Não usa vestido, oi
não usa calção...
Inverno pra ela é pleno verão!
Existencialista, com toda razão,
só faz o que manda o seu coração!
Marchinha de carnaval de João de Barro (Braguinha) e A. Ribeiro
"O homem da meia-noite - Recife (PE)
Bloco dos garis - Olinda (PE)
Escola de samba Mocidade Ind.de Pe.Miguel - Rio
"Escola de samba é povo na sua manifestação mais autêntica! Quando o samba se submete a influências externas, a escola de samba deixa de representar a cultura de nosso povo."
Antonio Candeia Filho, sambista carioca(1935-1978)

Carnaval carioca, década de 1920


O carnaval é uma festa que remonta à Antiguidade. Acredita-se que as primeiras referências que se tem notícia estejam ligadas às festas agrárias, que aconteciam com a chegada da primavera. Após um longo período de recolhimento para se protegerem
do frio, as pessoas (pasmem!) saíam das cavernas para comemorar a chegada do sol. Era a época da colheita e do plantio e todos cantavam e dançavam para espantar os "maus espíritos". Em Roma, havia as Saturnálias, festa que homenageava Saturno, o
deus da agricultura. Segundo a lenda, Saturno pregava a igualdade entre os homens
e defendia a humanização dos deuses. Talvez por isso tenha sido expulso do Olimpo.
Durante as Saturnálias os escravos assumiam o lugar dos senhores da aristocracia,
os tribunais e as escolas não funcionavam, todas convenções sociais eram abolidas,
e eles podiam cantar, dançar e até fazer pilhérias com os senhores. Tudo era permitido.
Por volta do século XVI os portugueses começaram a praticar o "entrudo", brincadeiras que variavam de um lugar para outro; confeccionavam grandes bonecos de pano e lançavam entre si os "limões de cheiro"(pequenas bolas de cera com água perfumada em seu interior), costume oriundo de Paris. A partir do século XIX começaram a aparecer no Rio de Janeiro duas categorias de "entrudo": o familiar e o popular. O primeiro, acontecia nas casas dos senhores dos principais
centros urbanos e consistia em lançar os "limões" entre si, num clima de descontração e como uma forma de estreitar os relacionamentos. Muitos escravos os vendiam em tabuleiros nas ruas do Rio antigo. Já o "entrudo popular" era praticado pelo povão e pelos escravos; ao contrário do "familiar", era recheado de qualquer tipo de líquido, contendo às vezes urina ou sêmen.
A partir de 1830, a igreja deu início a uma campanha para acabar com esse tipo de brincadeira, mas suas tentativas foram infrutíferas. Ainda hoje podemos encontrar em várias cidades esse tipo de brincadeira, inclusive nos carnavais de Recife e Olinda("mela-mela"), em Salvador("pipoca") e em muitas cidades do interior.
No final do século XIX já passamos a encontrar uma certa organização de grupos carnavalescos chamados de "cordões", "ranchos" ou "blocos", que ocupavam as ruas do Rio de Janeiro, servindo de modelo para o resto do Brasil. Em 1890 a compositora Chiquinha Gonzaga escreveu a primeira música para o carnaval , a marchinha "Ô Abre Alas!", para o cordão "Rosas de Ouro". Os foliões, como eram chamados, frequentavam os bailes fantasiados, usando máscaras e disfarces inspirados nos bailes de máscaras parisienses.
Atualmente, no Rio, em São Paulo e em muitas cidades brasileiras, as escolas de samba fazem desfiles organizados, criando uma acirrada disputa para a escolha da melhor escola do ano. Existe uma verdadeira indústria do carnaval e muita gente
trabalha o ano inteiro pra juntar dinheiro, comprar sua fantasia e desfilar numa escola de samba. É o seu sonho de consumo. A maioria das escolas convida estrelas da televisão para desfilarem, na tentativa de ganhar pontos para serem classificadas.
Hoje o carnaval é muito mais um espetáculo televisivo do que aquela brincadeira de outrora. O carnem levare ou carnelevarium, palavra latina que significa "adeus à carne", há muito tempo perdeu este sentido. Tratava-se de uma alusão a abstinência de carne logo após os 4 dias de festa. Durante 40 dias a igreja determinava que os cristãos estavam proibidos de consumir carne. Era a quaresma !
Fora do eixo Rio-São Paulo, ainda encontramos um carnaval que foge a esse padrão
de escola de samba; em cidades como Recife e Olinda as pessoas saem às ruas para dançar em blocos, em ritmo do frevo e do maracatu. Em Salvador existem os trios elétricos(grandes carros equipados com alta tecnologia musical), com músicas dançantes de cantores e grupos da região. Mas a violência está cada vez mais assustadora!

Carnaval durante o periodo da escravidão - Jean-Baptiste Debret
"A luta entre o carnaval e a quaresma" - Pieter Bruegel

6 comentários:

  1. Excelente este seu poste, gostei das fotos e da informacao. Obrigado
    Kandandu e bom carnaval

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  2. Fiz um trabalho há muito tempo, para faculdade sobre a festa iconoclasta. É muito interessante. Vou deixar um trecho aqui:

    "Uma cidade, um povo, mesmo um grupo mais ou menos restrito de indivíduos, que não logrem exprimir coletivamente sua imoderação, sua demência, seu imaginário, desintegra-se rapidamente." (Maffesoli)

    Acho que é bem por aí, Cirandeira. Mas quando a festa se torna apenas um espetáculo a ser visto, perde quase que totalmente esta caractéristica de festa popular. Adorei teu post e que imagens lindas!

    beijos.

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  3. Oi, Cirandeira - havia deixado um comentário aqui hoje de manhã, não sei o que aconteceu... Achei o post ótimo. E dizia que, apesar das previsões em contrário, a boa notícia é que os blocos de rua do carnaval do Rio não só não morreram, como este ano renasceram com plena força, que bom. Beijo.

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  4. Olá!
    Nunca havia lido sobre este histórico do carnaval.
    Você é inefável!
    Bjs!

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  5. Cirandeira, o seu blog é inteligente, sensível, criativo e muiito bonito. Nos mande o seu email para minimoajuste@gmail.com e venha ser autora do Mínimo Ajuste. Será incrível ter você lá.

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  6. A festa da carne! Importante trazer essas informações pra gente não perder de vista as origens da nossa cultura. Adorei as imagens também, principalamente a luta entre o carnaval e aquaresma, genial. Beijos!
    P.s.: A fonte das imagens dos teares já está lá! Obrigada pelo toque. Faria a referência, buscava certezas, mas o seu comentário apressou a tarefa. Próximas postagens trarão imagens de Nhôzinho, o artista que dá nome ao museu. Valeu! Rita

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