Chiquita bacana lá da Martinica,
se veste com uma casca de banana nanica
Não usa vestido, oi
não usa calção...
Inverno pra ela é pleno verão!
Existencialista, com toda razão,
só faz o que manda o seu coração!
Marchinha de carnaval de João de Barro (Braguinha) e A. Ribeiro
"O homem da meia-noite - Recife (PE)
Bloco dos garis - Olinda (PE)
"Escola de samba é povo na sua manifestação mais autêntica! Quando o samba se submete a influências externas, a escola de samba deixa de representar a cultura de nosso povo."
Antonio Candeia Filho, sambista carioca(1935-1978)
Carnaval carioca, década de 1920
O carnaval é uma festa que remonta à Antiguidade. Acredita-se que as primeiras referências que se tem notícia estejam ligadas às festas agrárias, que aconteciam com a chegada da primavera. Após um longo período de recolhimento para se protegerem
do frio, as pessoas (pasmem!) saíam das cavernas para comemorar a chegada do sol. Era a época da colheita e do plantio e todos cantavam e dançavam para espantar os "maus espíritos". Em Roma, havia as Saturnálias, festa que homenageava Saturno, o
deus da agricultura. Segundo a lenda, Saturno pregava a igualdade entre os homens
e defendia a humanização dos deuses. Talvez por isso tenha sido expulso do Olimpo.
Durante as Saturnálias os escravos assumiam o lugar dos senhores da aristocracia,
os tribunais e as escolas não funcionavam, todas convenções sociais eram abolidas,
e eles podiam cantar, dançar e até fazer pilhérias com os senhores. Tudo era permitido.
Por volta do século XVI os portugueses começaram a praticar o "entrudo", brincadeiras que variavam de um lugar para outro; confeccionavam grandes bonecos de pano e lançavam entre si os "limões de cheiro"(pequenas bolas de cera com água perfumada em seu interior), costume oriundo de Paris. A partir do século XIX começaram a aparecer no Rio de Janeiro duas categorias de "entrudo": o familiar e o popular. O primeiro, acontecia nas casas dos senhores dos principais
centros urbanos e consistia em lançar os "limões" entre si, num clima de descontração e como uma forma de estreitar os relacionamentos. Muitos escravos os vendiam em tabuleiros nas ruas do Rio antigo. Já o "entrudo popular" era praticado pelo povão e pelos escravos; ao contrário do "familiar", era recheado de qualquer tipo de líquido, contendo às vezes urina ou sêmen.
A partir de 1830, a igreja deu início a uma campanha para acabar com esse tipo de brincadeira, mas suas tentativas foram infrutíferas. Ainda hoje podemos encontrar em várias cidades esse tipo de brincadeira, inclusive nos carnavais de Recife e Olinda("mela-mela"), em Salvador("pipoca") e em muitas cidades do interior.
No final do século XIX já passamos a encontrar uma certa organização de grupos carnavalescos chamados de "cordões", "ranchos" ou "blocos", que ocupavam as ruas do Rio de Janeiro, servindo de modelo para o resto do Brasil. Em 1890 a compositora Chiquinha Gonzaga escreveu a primeira música para o carnaval , a marchinha "Ô Abre Alas!", para o cordão "Rosas de Ouro". Os foliões, como eram chamados, frequentavam os bailes fantasiados, usando máscaras e disfarces inspirados nos bailes de máscaras parisienses.
Atualmente, no Rio, em São Paulo e em muitas cidades brasileiras, as escolas de samba fazem desfiles organizados, criando uma acirrada disputa para a escolha da melhor escola do ano. Existe uma verdadeira indústria do carnaval e muita gente
trabalha o ano inteiro pra juntar dinheiro, comprar sua fantasia e desfilar numa escola de samba. É o seu sonho de consumo. A maioria das escolas convida estrelas da televisão para desfilarem, na tentativa de ganhar pontos para serem classificadas.
Hoje o carnaval é muito mais um espetáculo televisivo do que aquela brincadeira de outrora. O carnem levare ou carnelevarium, palavra latina que significa "adeus à carne", há muito tempo perdeu este sentido. Tratava-se de uma alusão a abstinência de carne logo após os 4 dias de festa. Durante 40 dias a igreja determinava que os cristãos estavam proibidos de consumir carne. Era a quaresma !
Fora do eixo Rio-São Paulo, ainda encontramos um carnaval que foge a esse padrão
de escola de samba; em cidades como Recife e Olinda as pessoas saem às ruas para dançar em blocos, em ritmo do frevo e do maracatu. Em Salvador existem os trios elétricos(grandes carros equipados com alta tecnologia musical), com músicas dançantes de cantores e grupos da região. Mas a violência está cada vez mais assustadora!
Excelente este seu poste, gostei das fotos e da informacao. Obrigado
ResponderExcluirKandandu e bom carnaval
Fiz um trabalho há muito tempo, para faculdade sobre a festa iconoclasta. É muito interessante. Vou deixar um trecho aqui:
ResponderExcluir"Uma cidade, um povo, mesmo um grupo mais ou menos restrito de indivíduos, que não logrem exprimir coletivamente sua imoderação, sua demência, seu imaginário, desintegra-se rapidamente." (Maffesoli)
Acho que é bem por aí, Cirandeira. Mas quando a festa se torna apenas um espetáculo a ser visto, perde quase que totalmente esta caractéristica de festa popular. Adorei teu post e que imagens lindas!
beijos.
Oi, Cirandeira - havia deixado um comentário aqui hoje de manhã, não sei o que aconteceu... Achei o post ótimo. E dizia que, apesar das previsões em contrário, a boa notícia é que os blocos de rua do carnaval do Rio não só não morreram, como este ano renasceram com plena força, que bom. Beijo.
ResponderExcluirOlá!
ResponderExcluirNunca havia lido sobre este histórico do carnaval.
Você é inefável!
Bjs!
Cirandeira, o seu blog é inteligente, sensível, criativo e muiito bonito. Nos mande o seu email para minimoajuste@gmail.com e venha ser autora do Mínimo Ajuste. Será incrível ter você lá.
ResponderExcluirA festa da carne! Importante trazer essas informações pra gente não perder de vista as origens da nossa cultura. Adorei as imagens também, principalamente a luta entre o carnaval e aquaresma, genial. Beijos!
ResponderExcluirP.s.: A fonte das imagens dos teares já está lá! Obrigada pelo toque. Faria a referência, buscava certezas, mas o seu comentário apressou a tarefa. Próximas postagens trarão imagens de Nhôzinho, o artista que dá nome ao museu. Valeu! Rita