DE CHARLES BUKOWSKI (1920-1994)

Arder na água, afogar-se no fogo. O mais importante é saber atravessar o fogo.

27/03/2011

O Albatroz


Às vezes no alto mar, distrai-se a marinhagem

com a caça do albatroz, ave enorme e voraz,

que segue pelo azul a embarcação em viagem,

num voo triunfal, numa carreira audaz.


Mas quando o albatroz se vê preso, estendido

nas tábuas do convés, - pobre rei destronado!

Que pena ele faz, humilde e constrangido,

as asas imperiais caídas para o lado!


Dominador do espaço, eis perdido o seu nimbo!

Era grande e gentil, ei-lo grotesco verme!

Chega-lhe um ao bico o fogo do cachimbo,

mutila um outro a pata ao voador inerme.


O poeta é semelhante a essa águia marinha

que desdenha da seta, e afronta os vendavais;

exilado na terra, entre a plebe escarninha,

não o deixam andar as asas colossais!


Charles Baudelaire, em As flores do mal.

Tradução de Delfim Guimarães

2 comentários:

  1. Ci,
    O poeta, por vezes, é um remador que encaminha o seu frágil bote contra as altas vagas...

    Beijo :)

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  2. É melancólico, triste e sério. Requer silêncios. Bela foto! Beijos, Cirandeira!

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