"Roches noires", Claude Monet
Não estamos próximos do cume da montanha de onde iremos dar as boas-vindas ao sol nascente. Não estamos no momento onde vão se realizar as promessas das Luzes, como acreditávamos em 1789, antes que a história se embrenhe novamente em turbulências com guilhotinas, sobressaltos, Napoleão, Restauração, re-revolução.
Não sairemos da história.
Devemos nos re-situar na pré-história do espírito humano. Estamos num jogo incerto/aleatório do regressivo/progressivo, simultaneamente dentro de revoluções selvagens e regressões bárbaras. Estamos na noite e na neblina, placenta informe, útero onde o sangue que nos nutre se mistura com a imundície.
Não sabemos se a agonia em que entramos é aquela do nascimento ou da morte da humanidade.
Assim, ao prepararmos plenamente uma nova Renscença, ao continuarmos plenamente na pré-história do espírito, não é uma verdadeira Idade Média que experimentamos, não é uma verdadeira Renascença que preparamos, não é a pré-história que levamos a bom termo. Estamos na idade de ferro planetária.
Mas, uma idade de ferro é por ela mesma casa de ferreiro. É a humanidade que forja a idade de ferro planetária. A diferença entre a antiga idade de ferro, na qual se forjava a civilização técnica, é que esta não carregava nela a ameaça de aniquilação da humanidade, exceto em seus estágios atuais em que o extremo desenvolvimento técnico permite, ao mesmo tempo, a gênese da humanidade planetária, isto é, esta nova idade de ferro e sua destruição apocalíptica.
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Muitos acreditam que perdemos tudo ao perder nossas ilusões. Ao contrário, fizemos uma prodigiosa aquisição ao perdermos nossos erros: a tomada de consciência necessária e, talvez, no jogo da verdade e do erro, salutar. Perdemos a promessa de progresso, mas é um enorme progresso, enfim, descobrir que o progresso era um mito. (........)
Estamos num planeta que vive, titubeia, sem provisões certas para o amanhã. Talvez, como já o afirmei, as cartas já tenham sido dadas, mas só o saberemos muito tempo depois, mas, talvez, tudo continue em jogo e sendo jogado novamente em mil bifurcações, hesitações, aqui e acolá, no mundo, e que a cada instante a decisão depende da coragem ou da covardia, da lucidez ou do desvario. Talvez seremos testemunhas ou atores do acontecimento desconhecido fazendo deflagrar a grande avalanche, cujo estrondo repercutirá até o final dos tempos humanos.
"Para onde vai o mundo?" - de Edgar Morin, (1921- ) sociólogo e filósofo francês, nascido em Paris, diretor emérito do Centro Nacional de Pesquisa Científica.
Ótimo. Aliás, li e não pude comentar o excelente texto sobre as tragédias na mídia. De par com este, dá muito pano pra manga em termos de discussão filosófica. Ainda bem que você posta textos dessa natureza como introdução à reflexão!
ResponderExcluirBeijo.
E ainda bem que tenho um leitor como você, Marcantonio! Gosto sempre dos comentários que você me deixa, pq enriquece sobremaneira as minhas reflexões!
ResponderExcluirBeijo