DE CHARLES BUKOWSKI (1920-1994)

Arder na água, afogar-se no fogo. O mais importante é saber atravessar o fogo.

14/03/2011

Se houvesse degraus na terra...


Se houvesse degraus na terra e tivesse anéis no céu,
eu subiria os degraus e aos anéis me prenderia.
No céu podia tecer uma nuvem toda negra.
E que nevasse, e chovesse, e houvesse luz nas montanhas,
e à porta do meu amor o ouro se acumulasse.

Beijei uma boca vermelha e a minha boca tingiu-se,
levei um lenço à boca e o lenço fez-se vermelho.
Fui lavá-lo na ribeira e a água tornou-se rubra,
e a fímbria do mar, e o meio do mar,
e vermelhas se volveram as asas da águia
que desceu para beber,
e metade do sol e a lua inteira se tornaram vermelhas.

Maldito seja quem atirou uma maçã para o outro mundo.
Uma maçã, uma mantilha de ouro e uma espada de prata.
Correram os rapazes à procura da espada,
e as raparigas correram à procura da mantilha,
e correram, correram as crianças à procura da maçã.

Herberto Helder (Luís Bernardo de Oliveira), Funchal (Ilha da Madeira) - 1930

6 comentários:

  1. Se houvesse degraus na terra, a escada seria mais visível e, talvez, fosse mais fácil subir, descer, sentar ou rolar sem quebrar os pés.
    beijos
    Gostei muuto desse poeta. Como sempre, minha ignorância e eu não o conhecíamos.

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  2. MUY DISIENTE OBRA, REFLEXIVA.
    UN ABRAZO

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  3. Os degraus da ilustração são lindos e o poema nos coloca num abismo de sabores, cores e prazeres. Você, Jussara, com o seu olhar, está sempre nos inventando e vendo beleza no outro. A sua generosidade e o seu espírito estético é que estão sempre nos iluminando, mostrando caminhos. Beijos!

    P.s.: O livro está no tratado das veias, se não tem ainda, mando pra você agora. Diz o endereço. Rita

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  4. Rita, obrigada, não sabia que já tens livro publicado, mas a forma como te expressas demonstra muito bem teu domínio sobre as palavras!
    Tentei acessar teu e-mail, mas não conseguí porque não uso o out look. Retirei o meu pq estava recebendo "inconveniências" :) Futuramente, quem sabe nos comunicaremos...

    beijo

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  5. Ah, essa Bípede é terrível! Ela já foi no blog do escritor e poeta português António Cabrita, virou seguidora, deixou comentários... mas não fuçou nada direitinho por lá. O Cabrita fala do Herbeto Helder e de muitos outros nomes importantes das letras lusófonas.

    Aliás, se você ainda não conhece o "Raposas a Sul" (raposasasul.blogspot.com), não deixe de conhecer. Tem muita coisa de primeira!

    Fofoquei, fofoquei e não falei do poema. (Ó ceus, como eu perco o meu tempo com besteira, hem!)

    Beijos

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  6. Tuca, adorei tuas "besteiras", acho-as simplesmente preciosas, e obrigada pela dica do blog, vou lá conferir, com certeza.

    Beijos

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