Se houvesse degraus na terra e tivesse anéis no céu,
eu subiria os degraus e aos anéis me prenderia.
No céu podia tecer uma nuvem toda negra.
E que nevasse, e chovesse, e houvesse luz nas montanhas,
e à porta do meu amor o ouro se acumulasse.
Beijei uma boca vermelha e a minha boca tingiu-se,
levei um lenço à boca e o lenço fez-se vermelho.
Fui lavá-lo na ribeira e a água tornou-se rubra,
e a fímbria do mar, e o meio do mar,
e vermelhas se volveram as asas da águia
que desceu para beber,
e metade do sol e a lua inteira se tornaram vermelhas.
Maldito seja quem atirou uma maçã para o outro mundo.
Uma maçã, uma mantilha de ouro e uma espada de prata.
Correram os rapazes à procura da espada,
e as raparigas correram à procura da mantilha,
e correram, correram as crianças à procura da maçã.
Herberto Helder (Luís Bernardo de Oliveira), Funchal (Ilha da Madeira) - 1930
Se houvesse degraus na terra, a escada seria mais visível e, talvez, fosse mais fácil subir, descer, sentar ou rolar sem quebrar os pés.
ResponderExcluirbeijos
Gostei muuto desse poeta. Como sempre, minha ignorância e eu não o conhecíamos.
MUY DISIENTE OBRA, REFLEXIVA.
ResponderExcluirUN ABRAZO
Os degraus da ilustração são lindos e o poema nos coloca num abismo de sabores, cores e prazeres. Você, Jussara, com o seu olhar, está sempre nos inventando e vendo beleza no outro. A sua generosidade e o seu espírito estético é que estão sempre nos iluminando, mostrando caminhos. Beijos!
ResponderExcluirP.s.: O livro está no tratado das veias, se não tem ainda, mando pra você agora. Diz o endereço. Rita
Rita, obrigada, não sabia que já tens livro publicado, mas a forma como te expressas demonstra muito bem teu domínio sobre as palavras!
ResponderExcluirTentei acessar teu e-mail, mas não conseguí porque não uso o out look. Retirei o meu pq estava recebendo "inconveniências" :) Futuramente, quem sabe nos comunicaremos...
beijo
Ah, essa Bípede é terrível! Ela já foi no blog do escritor e poeta português António Cabrita, virou seguidora, deixou comentários... mas não fuçou nada direitinho por lá. O Cabrita fala do Herbeto Helder e de muitos outros nomes importantes das letras lusófonas.
ResponderExcluirAliás, se você ainda não conhece o "Raposas a Sul" (raposasasul.blogspot.com), não deixe de conhecer. Tem muita coisa de primeira!
Fofoquei, fofoquei e não falei do poema. (Ó ceus, como eu perco o meu tempo com besteira, hem!)
Beijos
Tuca, adorei tuas "besteiras", acho-as simplesmente preciosas, e obrigada pela dica do blog, vou lá conferir, com certeza.
ResponderExcluirBeijos