DE CHARLES BUKOWSKI (1920-1994)

Arder na água, afogar-se no fogo. O mais importante é saber atravessar o fogo.

10/03/2011

Em meu ofício ou arte taciturna...

foto de Henri Cartier-Bresson


Em meu ofício ou arte taciturna
exercido na noite silenciosa
quando somente a lua se enfurece
e os amantes jazem no leito
com todas as sua mágoas nos braços,
trabalho junto à luz que canta
não por glória ou por pão
nem por pompa ou tráfico de encantos
nos palcos de marfim
mas pelo mínimo salário
de seu mais secreto coração.
Escrevo estas páginas de espuma
não para o homem orgulhoso
que se afasta da lua enfurecida
nem para os mortos de alta estirpe
com seus salmos e rouxinóis,
mas para os amantes, seus braços
que enlaçam as dores dos séculos.
Que não me pagam nem me elogiam
e ignoram meu ofício ou minha arte.


Dylan Thomas, País de Gales, Reino Unido (1914-1953)
Tradução de Ivan Junqueira

Obs: Esse poema foi-me gentilmente enviado pelo poeta Marcantonio(http://diarioextrovertido.blogspot.com/ ) através de um comentário sobre a postagem "Palavras tantas. Quantas?"

2 comentários:

  1. Que presentão, menina! Dylan é danado (Ivan Junqueira e Marcantonio, não menos)!

    Acho o lirismo do galês (não diga que um galês é da Inglaterra, a não ser que você não se importe com a reputação de sua mãe!) super contemporâneo. Não entendo como os adoradores do Caio Abreu quando eufórico e da Clarice Lispector mais digestiva ainda não o descobriram. Tá certo que ele é mais sofisticado, mas poemas como este são fontes em que todos das gerações de Clarice e Caio beberam pelo menos uns bons goles.

    Há uma coincidência numerológica na vida dele que me intriga. Ele largou o trabalho pra se dedicar inteiramente à poesia aos 18 anos, seu primeiro livro chama-se 18 Poems, teria bebido 18 doses de uísque no dia em que morreu, em 1953, cujos algarismos somados dão 18. (Oh céus, como eu perco meu tempo com besteira, hem!)

    Beijos

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  2. Vixe maria!, Tuca, que mancada a minha. Na verdade fiquei confusa geograficamente, fiquei pensando que o País de Gales fazia parte da Inglaterra, mas não faz muito tempo que ele tornou-se autônomo. Santa ignorância a minha!
    Já fiz a devida correção, obrigada pelo toque.
    Mais uma vez: as tuas "besteiras" me são valiosíssimas, brigadão!

    Beijos

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