com as mesmas vinte palavras
girando ao redor do sol
que as limpa do que não é faca;
de toda uma crosta viscosa,
resto de janta abaianada,
que fica na lâmina e cega
seu gosto da cicatriz clara.
* * *
Falo somente do que falo:
do seco e de suas paisagens,
Nordestes, debaixo de um sol
alí do mais quente vinagre;
que reduz tudo ao espinhaço,
crosta e simplesmente folhagem,
folha prolixa, folharada,
onde possa esconder-se a fraude.
* * *
Falo somente por quem falo:
por quem existe nesses climas
condicionados pelo sol,
pelo gavião e outras rapinas;
e onde estão os solos inertes
de tantas condições caatinga
em que só cabe cultivar
o que é sinônimo da míngua.
* * *
Falo somente para quem falo:
quem padece sono de morto
e precisa um despertador
acre, como o sol sobre o olho;
que é quando o sol é estridente,
a contra-pelo, imperioso,
e bate numa porta a socos.
João Cabral de Melo Neto, em Poesias Completas - Editora Sabiá.
UFFFFF, MARAVILLOSO MENSAJE.
ResponderExcluirUN ABRAZO
Ci,
ResponderExcluirDo que sei do Brasil, parece-me que ele tem uma grande diversidade de territórios e de gentes. Do nordeste me vão chegando algumas notícias, quase todas elas marcadas pela agrura da vida. Mas uma adversidade que, apesar de tudo, tem moldado muitas pessoas de carácter.
Beijo :)
Tens razão, AC, somos um país cheio de diversidades e adversidades, também;acho até que
ResponderExcluirsomos vários Brasis dentro de um só
Brasil, cada qual com características próprias, inclusive
de linguagem. Mas o Nordeste é a região mais sofrida, mais pobre, não por falta de riquezas, mas devido a sua má utilização, e, devido a muitas dificuldades, o nordestino foi aprendendo a se tornar forte, apesar de tudo!
Acho que João Cabral foi o poeta
que melhor retratou a condição do
nordestino, que conseguiu extrair
beleza dessa paisagem quente, seca,
mas iluminada pelo sol!
beijos :)
Um dos grandes, Ci!!!
ResponderExcluirbeijosss