DE CHARLES BUKOWSKI (1920-1994)

Arder na água, afogar-se no fogo. O mais importante é saber atravessar o fogo.

28/11/2011

A Lentidão

Frida Kahlo

Por que o prazer da lentidão desapareceu? Ah, para onde foram aqueles que antigamente gostavam de flanar? Onde estão eles, aqueles heróis preguiçosos das canções populares, aqueles vagabundos que vagavem de moínho em moínho e dormiam sob as estrelas? Será que desapareceram junto com as veredas campestres, os prados e as clareiras, com a natureza? (...) Em nosso mundo, a ociosidade transformou-se em desocupação, o que é uma coisa inteiramente diferente; o desocupado fica frustrado, se aborrece, está constantemente à procura do movimento que lhe falta.

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Na linguagem corrente, a noção de hedonismo designa uma inclinação amoral para uma vida voltada para o prazer, até mesmo para o vício. Certamente a noção é inexata. Epicuro, o primeiro grande teórico do prazer, entendeu a vida feliz de um modo extremamente cético: sente prazer aquele que não sofre. É o sofrimento, portanto, que é a noção fundamental do hedonismo: somos felizes na medida em que sabemos afastar o sofrimento; e como os prazeres trazem muitas vezes mais infelicidade do que felicidade, Epicuro não recomenda senão os prazeres modestos e prudentes. A sabedoria epicurista tem um fundo melancólico: atirado à miséria do mundo, o homem constata que o único valor evidente e seguro é o prazer, mesmo pequeno, que ele próprio pode sentir: um gole de água fresca, um olhar para o céu, uma carícia.

Milan Kundera, República Tcheca, 1929.

4 comentários:

  1. O prazer da lentidão se transformou em um mistério :)
    beijosss

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  2. Pois eu acho que a lentidão está em vias de extinção! :)

    beijoss

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  3. Uai, então eu estou em vias de extinção...Eu e a minha lenditão...:-)
    Beijos,

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  4. Estamos!, Tânia, somos umas formiguinhas sendo esmagadas pela correria em que foi transformada a sociedade de consumo, a sociedade do TER:sucesso, dinheiro, poder, ganância, do salve-se quem puder!

    beijosss

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